Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia
Uma nova história da vida escolar dos filhos se inicia em milhares de
lares brasileiros. O primeiro trimestre (para a maioria das escolas,
uma vez que há aquelas cujas avaliações são bimestrais) é marcado por
novidades, como professores e colegas novos, materiais diferentes, etc.
No final, há a expectativa pelos primeiros resultados obtidos no ano. Ou
seja, pelo boletim.
Este momento pode ser marcado por uma infinidade de sensações -
alegria, medos, tranqüilidade, frustração. Mesmo assim, quase ninguém
deixa de entregar o boletim, porque, seja qual for o resultado, ainda há
muito tempo para compensar um mau desempenho.
A apresentação das notas vem normalmente acompanhada de
justificativas, desculpas ou afirmações das mais variadas, dependendo do
desempenho que os filhos conseguiram conquistar. Quando são bons,
chegam logo dizendo "viu, mãe, eu disse que este ano seria diferente" ou
ainda "pronto, agora você pode me dar aquele presente que prometeu".
Quando não são tão satisfatórios, a conversa é outra: "Ainda é o
primeiro trimestre. No próximo eu recupero." E também: "É aquele
professor que não explica nada. Vá à escola reclamar dele!"
Seja em qual situação for, esse momento deve ser reservado para uma
profunda análise da vida escolar, que recomeçou há pouco tempo, e um
diálogo realmente franco e aberto para evitar futuras situações
desagradáveis. Deixar o filho consciente das suas responsabilidades em
relação à escola.
Aquelas crianças que têm o bom desempenho escolar como uma marca
devem ser incentivadas a aprender mais, a aprofundar seus conhecimentos e
a perceber que o estudo é o melhor caminho para a autonomia e para uma
visão de mundo mais apurada e verdadeira. Deve-se mostrar também que não
há lugar para trocas. Não é porque as notas estão boas que os pais têm
obrigação de dar um presente ao filho. A criança precisa sentir que ela
mesma está se presenteando e que está fazendo o melhor que pode por si
mesma. Esse é o maior bem.
Aquelas crianças que têm algumas dificuldades de aprendizagem e
necessitam serem acompanhadas mais de perto devem tomar o boletim como o
resultado mais fiel de seus esforços. Não deverá ter críticas e
cobranças se a criança apresentar dificuldade, desde que ela seja
encarada, e a busca da superação seja o objetivo maior. Pais e filhos
precisam encontrar, através de um diálogo permanente, o caminho que deve
ser percorrido para vencer as barreiras.
Muitas vezes, o problema está na forma como o aluno estuda. Nesse
caso, a interferência dos pais pode ser muito importante e cabe uma
avaliação conjunta sobre isso e também sobre o tempo que o filho está
investindo nas atividades da escola, assim como o lugar em que realiza
seus trabalhos. Às vezes, uma mudança nesses aspectos pode dar um
fabuloso resultado.
Pode haver também divergências entre o sistema de avaliação da escola
e as expectativas de rendimento escolar por parte da família. Isso deve
ser discutido com a orientação da escola, que deve apresentar ao aluno a
sistemática na qual está ele inserido e fazê-lo perceber qual seu papel
nela, possibilitando assim um melhor entendimento do funcionamento da
instituição. A orientação escolar ainda pode ajudar, e muito, em relação
às formas de estudo, para um melhor aproveitamento e rendimento do
aluno, bem como verificar o seu entrosamento no grupo, o que pode
provocar alterações na sua vida escolar.
Mas acredito que o mais importante seja que as notas obtidas no
primeiro trimestre não signifiquem prêmio ou castigo. Elas não podem ter
essa conotação. Os pais devem orientar os filhos mostrando-lhes que
esses resultados representam seu esforço, que a fase de estudante deve
ser levada a sério e que, nesse momento de sua vida, o estudo deve ser
encarado com responsabilidade. A vida estudantil não é simplesmente uma
passagem pela escola. Trata-se, sim, da construção de valores e
conhecimentos sistematizados que farão parte da herança cultural de cada
um.
O boletim escolar e os avanços ou retrocessos que representa são um
excelente pretexto para fazer o filho refletir sobre o seu papel na vida
e sobre sua responsabilidade na construção de sua vida pessoal e
profissional, bem como para estreitar os laços familiares. Enfim, transformar a entrega dos boletins do primeiro e, mais tarde,
do segundo e do terceiro trimestre num momento de diálogo e de avaliação
do processo pode ser o caminho para uma relação mais harmoniosa entre
pais e filhos.
Mais do que resultados do boletim, acompanhar a vida escolar de um
estudante é acompanhar as ocorrências, as oscilações para poder
analisá-las junto à escola. Antes de partir para qualquer solução, antes
de se desesperar, é importante que se defina qual é o problema com
todos os seus contornos para promoção de alternativas que deverão ser
discutidas por todos envolvidos neste processo. Só assim, a vida escolar
desses estudantes poderá ser menos fragmentada, menos sofrida e causar
menos danos à auto-estima. Todos nós temos capacidades e habilidades que
precisam ser definidas e estimuladas. Aproveitá-las no projeto de
ensino, através da adoção de diferentes estratégias, amplia as
possibilidades de aprendizagem. Somente saber sobre a dificuldade não é
suficiente para promover a ação educativa e a aprendizagem. É a partir
dela que todo o projeto educativo pode ser direcionado.
Fonte: Diário Catarinence
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/dc-na-sala-de-aula/noticia/2013/05/o-primeiro-boletim-chegou-e-agora-4126102.html
Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia
Uma nova história da vida escolar dos filhos se inicia em milhares de
lares brasileiros. O primeiro trimestre (para a maioria das escolas,
uma vez que há aquelas cujas avaliações são bimestrais) é marcado por
novidades, como professores e colegas novos, materiais diferentes, etc.
No final, há a expectativa pelos primeiros resultados obtidos no ano. Ou
seja, pelo boletim.
Este momento pode ser marcado por uma infinidade de sensações -
alegria, medos, tranqüilidade, frustração. Mesmo assim, quase ninguém
deixa de entregar o boletim, porque, seja qual for o resultado, ainda há
muito tempo para compensar um mau desempenho.
A apresentação das notas vem normalmente acompanhada de
justificativas, desculpas ou afirmações das mais variadas, dependendo do
desempenho que os filhos conseguiram conquistar. Quando são bons,
chegam logo dizendo "viu, mãe, eu disse que este ano seria diferente" ou
ainda "pronto, agora você pode me dar aquele presente que prometeu".
Quando não são tão satisfatórios, a conversa é outra: "Ainda é o
primeiro trimestre. No próximo eu recupero." E também: "É aquele
professor que não explica nada. Vá à escola reclamar dele!"
Seja em qual situação for, esse momento deve ser reservado para uma
profunda análise da vida escolar, que recomeçou há pouco tempo, e um
diálogo realmente franco e aberto para evitar futuras situações
desagradáveis. Deixar o filho consciente das suas responsabilidades em
relação à escola.
Aquelas crianças que têm o bom desempenho escolar como uma marca
devem ser incentivadas a aprender mais, a aprofundar seus conhecimentos e
a perceber que o estudo é o melhor caminho para a autonomia e para uma
visão de mundo mais apurada e verdadeira. Deve-se mostrar também que não
há lugar para trocas. Não é porque as notas estão boas que os pais têm
obrigação de dar um presente ao filho. A criança precisa sentir que ela
mesma está se presenteando e que está fazendo o melhor que pode por si
mesma. Esse é o maior bem.
Aquelas crianças que têm algumas dificuldades de aprendizagem e
necessitam serem acompanhadas mais de perto devem tomar o boletim como o
resultado mais fiel de seus esforços. Não deverá ter críticas e
cobranças se a criança apresentar dificuldade, desde que ela seja
encarada, e a busca da superação seja o objetivo maior. Pais e filhos
precisam encontrar, através de um diálogo permanente, o caminho que deve
ser percorrido para vencer as barreiras.
Muitas vezes, o problema está na forma como o aluno estuda. Nesse
caso, a interferência dos pais pode ser muito importante e cabe uma
avaliação conjunta sobre isso e também sobre o tempo que o filho está
investindo nas atividades da escola, assim como o lugar em que realiza
seus trabalhos. Às vezes, uma mudança nesses aspectos pode dar um
fabuloso resultado.
Pode haver também divergências entre o sistema de avaliação da escola
e as expectativas de rendimento escolar por parte da família. Isso deve
ser discutido com a orientação da escola, que deve apresentar ao aluno a
sistemática na qual está ele inserido e fazê-lo perceber qual seu papel
nela, possibilitando assim um melhor entendimento do funcionamento da
instituição. A orientação escolar ainda pode ajudar, e muito, em relação
às formas de estudo, para um melhor aproveitamento e rendimento do
aluno, bem como verificar o seu entrosamento no grupo, o que pode
provocar alterações na sua vida escolar.
Mas acredito que o mais importante seja que as notas obtidas no
primeiro trimestre não signifiquem prêmio ou castigo. Elas não podem ter
essa conotação. Os pais devem orientar os filhos mostrando-lhes que
esses resultados representam seu esforço, que a fase de estudante deve
ser levada a sério e que, nesse momento de sua vida, o estudo deve ser
encarado com responsabilidade. A vida estudantil não é simplesmente uma
passagem pela escola. Trata-se, sim, da construção de valores e
conhecimentos sistematizados que farão parte da herança cultural de cada
um.
O boletim escolar e os avanços ou retrocessos que representa são um
excelente pretexto para fazer o filho refletir sobre o seu papel na vida
e sobre sua responsabilidade na construção de sua vida pessoal e
profissional, bem como para estreitar os laços familiares. Enfim, transformar a entrega dos boletins do primeiro e, mais tarde,
do segundo e do terceiro trimestre num momento de diálogo e de avaliação
do processo pode ser o caminho para uma relação mais harmoniosa entre
pais e filhos.
Mais do que resultados do boletim, acompanhar a vida escolar de um
estudante é acompanhar as ocorrências, as oscilações para poder
analisá-las junto à escola. Antes de partir para qualquer solução, antes
de se desesperar, é importante que se defina qual é o problema com
todos os seus contornos para promoção de alternativas que deverão ser
discutidas por todos envolvidos neste processo. Só assim, a vida escolar
desses estudantes poderá ser menos fragmentada, menos sofrida e causar
menos danos à auto-estima. Todos nós temos capacidades e habilidades que
precisam ser definidas e estimuladas. Aproveitá-las no projeto de
ensino, através da adoção de diferentes estratégias, amplia as
possibilidades de aprendizagem. Somente saber sobre a dificuldade não é
suficiente para promover a ação educativa e a aprendizagem. É a partir
dela que todo o projeto educativo pode ser direcionado.
Fonte: Diário Catarinence
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/dc-na-sala-de-aula/noticia/2013/05/o-primeiro-boletim-chegou-e-agora-4126102.html
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