Como explicar o inexplicável
Um conto de Maria Cristina Zeballos de Sisto (Buenos Aires, março de 1995)
Maria Cristina, advogada, certa vez deparou-se com uma pergunta de seu
pequeno Frederico, de cinco anos que lhe questionou sobre o cheiro e a
cor do rio que havia visto num passeio da escola. Como lhe responder a
esta questão? Como lhe explicar que esse era um rio poluído? Como lhe
explicar que pessoas como seus pais eram responsáveis pela contaminação
do rio? Como lhe explicar que para fabricar seus sapatos se contaminam
litros de água? Resolveu, então, criar um conto:
Era uma vez, uma gota de água que morava numa grande e gorda nuvem, e se
chamava GOTITA. Certo dia, lá do alto da nuvem GOTITA viu no alto de
uma montanha, um fio de prata que descia e ficava cada vez maior e
brilhava como o sol. Muito curiosa GOTITA perguntou a uma gota mais
velha:
- O que é aquilo tão lindo que desce do alto da montanha?
A gota mais velha lhe respondeu que era a nascente de um rio que é
formado por muitas outras gotas que vivem viajando e moram com muitos
peixes e plantas aquáticas.
- Quero ser rio também! Respondeu animadamente.
Para sua sorte, naquele momento começou uma forte chuva e GOTITA
embarcou de carona para conhecer aquela maravilha. Mergulhou fundo no
rio e tudo era como a gota mais velha lhe havia dito. Ali as águas eram
cristalinas e foi então que começou sua viagem.
Logo se deparou com algumas mulheres lavadeiras às margens do rio. Elas
despejavam no rio uma água espumante e cheirosa e aquela água também
seguia o curso do rio, então, tratou de continuar sua viagem.
Na manhã seguinte encontrou um pescador que havia pescado um bagre
bigodudo. Foi até a margem para ver o que iria acontecer com o bagre e
deparou-se com muitas latas e potes plásticos no leito do rio. Aquilo já
não era mais tão bonito...
Seguiu sua viagem e a noite avistou muitas luzes que pareciam mil
estrelas e sentiu a música de uma pequena cidade. Dois namorados diziam
poesias quando ela passava, porém, em seguida lhe ocorreu algo muito
desagradável: de um grosso tubo começou a sair um líquido marrom e de
textura viscosa. Eram os dejetos de esgoto da cidade. Daí em diante as
coisas mudaram. A viagem deixou de ser encantadora. O dono de um
frigorífico sujou a água com sangue de um montão de animais e contaminou
o rio com restos de tanino que saiam de seu curtume.
No dia seguinte passou por uma usina que produzia energia para a cidade.
Os que fabricam eletricidade utilizam a água do rio para esfriar as
turbinas. Teve a sorte de conhecer uma turbina por dentro. Este último
passeio a esquentou um pouquinho e alguns peixes morreram. Há poucas
horas adiante dos deságües de uma fábrica juntaram-se umas substâncias
que têm nomes muito difíceis e que são muito perigosas. Realmente os
humanos não deixavam GOTITA em paz. Neste momento ela pensou: “Que
complicado é ser rio”. Logo passou um barco cheio de troncos de árvores
que perdia petróleo que ele usava como combustível. Este último
acontecimento a perturbou um pouco mais. Nesta noite descobriu que as
estrelas quase não se refletiam na água e logo chegou a capital. Em seus
arredores vivia muita gente. A sujeira se amontoava nas margens e não
se via ninguém, somente muito lixo e entre ele, pneus de automóveis
habitados por muitos caracóis que transmitem aos humanos uma doença
muito rara. Logo se deu conta que o leito do rio estava coberto por algo
negro. Escutou um senhor que dizia que aquilo era petróleo. O andar do
rio era cada vez mais lento. Um automóvel velho era morada de muitos
ratos as margens do rio. O rio já não era mais puro e nem cantava o
canto das cachoeiras. A GOTITA sentiu um odor muito forte. Uma mamãe
disse ao seu filho que não podia nadar neste rio porque as águas estavam
contaminadas e o contato com essa água era muito perigoso. Neste
momento a GOTITA avistou uma professora com seus alunos. “Eles vão
querer brincar comigo”, pensou a GOTITA, porém somente escutou a voz de
Frederico perguntando: ”o que é isso que cheira tão mal?”. GOTITA encheu
seu coração de pena e ela se sentiu muito leve, pois o sol começou a
esquenta-la e a transformou novamente em nuvem. Suspirou de alívio, “Que
susto”, exclamou “Estou limpa e de novo em casa”.
Quando se preparava para descansar de sua longa viagem desde o começo,
viu uma grande mancha negra que entrava no mar: esse era o rio da Prata.
Assim Frederico aprendeu como os homens podem transformar a natureza.
Tradução e Adaptação - Berenice Gehlen Adams
Como explicar o inexplicável
Um conto de Maria Cristina Zeballos de Sisto (Buenos Aires, março de 1995)
Maria Cristina, advogada, certa vez deparou-se com uma pergunta de seu
pequeno Frederico, de cinco anos que lhe questionou sobre o cheiro e a
cor do rio que havia visto num passeio da escola. Como lhe responder a
esta questão? Como lhe explicar que esse era um rio poluído? Como lhe
explicar que pessoas como seus pais eram responsáveis pela contaminação
do rio? Como lhe explicar que para fabricar seus sapatos se contaminam
litros de água? Resolveu, então, criar um conto:
Era uma vez, uma gota de água que morava numa grande e gorda nuvem, e se
chamava GOTITA. Certo dia, lá do alto da nuvem GOTITA viu no alto de
uma montanha, um fio de prata que descia e ficava cada vez maior e
brilhava como o sol. Muito curiosa GOTITA perguntou a uma gota mais
velha:
- O que é aquilo tão lindo que desce do alto da montanha?
A gota mais velha lhe respondeu que era a nascente de um rio que é
formado por muitas outras gotas que vivem viajando e moram com muitos
peixes e plantas aquáticas.
- Quero ser rio também! Respondeu animadamente.
Para sua sorte, naquele momento começou uma forte chuva e GOTITA
embarcou de carona para conhecer aquela maravilha. Mergulhou fundo no
rio e tudo era como a gota mais velha lhe havia dito. Ali as águas eram
cristalinas e foi então que começou sua viagem.
Logo se deparou com algumas mulheres lavadeiras às margens do rio. Elas
despejavam no rio uma água espumante e cheirosa e aquela água também
seguia o curso do rio, então, tratou de continuar sua viagem.
Na manhã seguinte encontrou um pescador que havia pescado um bagre
bigodudo. Foi até a margem para ver o que iria acontecer com o bagre e
deparou-se com muitas latas e potes plásticos no leito do rio. Aquilo já
não era mais tão bonito...
Seguiu sua viagem e a noite avistou muitas luzes que pareciam mil
estrelas e sentiu a música de uma pequena cidade. Dois namorados diziam
poesias quando ela passava, porém, em seguida lhe ocorreu algo muito
desagradável: de um grosso tubo começou a sair um líquido marrom e de
textura viscosa. Eram os dejetos de esgoto da cidade. Daí em diante as
coisas mudaram. A viagem deixou de ser encantadora. O dono de um
frigorífico sujou a água com sangue de um montão de animais e contaminou
o rio com restos de tanino que saiam de seu curtume.
No dia seguinte passou por uma usina que produzia energia para a cidade.
Os que fabricam eletricidade utilizam a água do rio para esfriar as
turbinas. Teve a sorte de conhecer uma turbina por dentro. Este último
passeio a esquentou um pouquinho e alguns peixes morreram. Há poucas
horas adiante dos deságües de uma fábrica juntaram-se umas substâncias
que têm nomes muito difíceis e que são muito perigosas. Realmente os
humanos não deixavam GOTITA em paz. Neste momento ela pensou: “Que
complicado é ser rio”. Logo passou um barco cheio de troncos de árvores
que perdia petróleo que ele usava como combustível. Este último
acontecimento a perturbou um pouco mais. Nesta noite descobriu que as
estrelas quase não se refletiam na água e logo chegou a capital. Em seus
arredores vivia muita gente. A sujeira se amontoava nas margens e não
se via ninguém, somente muito lixo e entre ele, pneus de automóveis
habitados por muitos caracóis que transmitem aos humanos uma doença
muito rara. Logo se deu conta que o leito do rio estava coberto por algo
negro. Escutou um senhor que dizia que aquilo era petróleo. O andar do
rio era cada vez mais lento. Um automóvel velho era morada de muitos
ratos as margens do rio. O rio já não era mais puro e nem cantava o
canto das cachoeiras. A GOTITA sentiu um odor muito forte. Uma mamãe
disse ao seu filho que não podia nadar neste rio porque as águas estavam
contaminadas e o contato com essa água era muito perigoso. Neste
momento a GOTITA avistou uma professora com seus alunos. “Eles vão
querer brincar comigo”, pensou a GOTITA, porém somente escutou a voz de
Frederico perguntando: ”o que é isso que cheira tão mal?”. GOTITA encheu
seu coração de pena e ela se sentiu muito leve, pois o sol começou a
esquenta-la e a transformou novamente em nuvem. Suspirou de alívio, “Que
susto”, exclamou “Estou limpa e de novo em casa”.
Quando se preparava para descansar de sua longa viagem desde o começo,
viu uma grande mancha negra que entrava no mar: esse era o rio da Prata.
Assim Frederico aprendeu como os homens podem transformar a natureza.
Tradução e Adaptação - Berenice Gehlen Adams
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