Internado há 18 anos, estudante conquista diploma do fundamental



Internado há 18 anos, estudante conquista diploma do fundamental
Lucas Gabriel Barbosa Santos, internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: único brasileiro em classe hospitalar a fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências em 2018.

Há quase 18 anos, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a casa de Lucas Gabriel Barbosa Santos. Ele foi internado no hospital aos 2 anos e oito meses de idade, devido a uma anomalia genética rara que paralisa os músculos. Hoje, aos 20, acaba de conquistar o diploma do ensino fundamental, depois de ser aprovado no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), realizado em agosto deste ano. O resultado chegou neste mês, uma semana depois de seu vigésimo aniversário.


Dos pouco mais de 1,5 milhão de candidatos inscritos no Brasil, ele foi o único de classe hospitalar a fazer a prova.

— Foi uma vitória. Coisa de Deus mesmo — comenta a mãe, Joana Paula Aleixo dos Santos. — Ele estava ansioso nos dias antes da divulgação do resultado. Achava que não ia passar. Quando recebeu a notícia da aprovação, ficou muito feliz. Para mim, também foi muito gratificante. Para alguém que não viveria mais do que 4 anos, ele já conseguiu muita coisa na vida.

Joana não exagera. Pouco depois de internar seu filho, ouviu dos médicos que ele viveria somente até os 4 anos de idade. Lucas já tinha sido diagnosticado, ainda com 1 ano, com doença de Pompe, que atinge uma em cada 40 mil pessoas em todo o mundo, segundo estudos internacionais. Muito rara e sem cura, essa enfermidade é causada pela deficiência de uma enzima, levando a uma fraqueza muscular crescente que impede o paciente de se locomover.

Embora grandes, as limitações do jovem são somente físicas. A capacidade cerebral em nada foi afetada. Dentro do Serviço de Retaguarda Infantil do hospital, na capital paulista, ele sempre mostrou especial encanto por adquirir conhecimento — por meio dos tradicionais livros ou pelo celular.


— Os médicos não sabem mais qual é a expectativa de vida dele — conta a mãe, não escondendo o orgulho. — Já passou tanto (do que era esperado) que agora não tem mais como estimar. E ele é lúcido, inteligente, tem a cabeça muito boa. Tem estrutura.

Desde pequeno, Lucas tem aulas dentro do hospital, mas essas sessões mantiveram periodicidade apenas nos primeiros tempos de internação, conta Joana. Na última década, ficaram irregulares, dependendo sempre da disponibilidade de voluntários.

A grande virada aconteceu no início do ano, quando um grupo de nove amigos, estudantes de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, começou a dar aulas intensivas ao rapaz no horário do almoço.


— Em uma visita que fiz ao Lucas, ele me disse que seu sonho era ser astrofísico — lembra o futuro médico Lucas Maschietto Boff, de 21 anos.

Santa Maluquice

O universitário já fazia parte do projeto Santa Maluquice, no qual graduandos da Santa Casa brincam com crianças internadas no hospital. Foi em uma dessas visitas que ele conheceu o filho de Joana e decidiu organizar o grupo de professores voluntários para, em apenas quatro meses, preparar o jovem para o exame.

— Eu já passei por um processo seletivo difícil, que é o do vestibular para Medicina, mas o que ele fez foi fantástico — diz Boff. — Em quatro meses, recebeu o conteúdo que estudantes normalmente recebem ao longo de quatro anos.

O Encceja é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e se destina a jovens e adultos que moram no Brasil ou no exterior que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos na idade apropriada.

Para conseguir a autorização para o paciente fazer a prova, dentro do hospital, o estudante de Medicina precisou entrar em contato com o Inep e entregar uma série de documentos. Ele fez, pessoalmente, a inscrição do jovem no exame:

— Ao ler o edital inteiro, vi que era direito de todo cidadão fazer o exame. Só que, faltando duas semanas para a prova, ainda não tinha confirmação de que viriam à Santa Casa para aplicar. Entrei em desespero. Uma semana depois, conseguimos.

Daqui para a frente, o plano de Lucas Gabriel é continuar estudando. A meta é chegar ao ensino superior e cursar Física.



Internado há 18 anos, estudante conquista diploma do fundamental
Lucas Gabriel Barbosa Santos, internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: único brasileiro em classe hospitalar a fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências em 2018.

Há quase 18 anos, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a casa de Lucas Gabriel Barbosa Santos. Ele foi internado no hospital aos 2 anos e oito meses de idade, devido a uma anomalia genética rara que paralisa os músculos. Hoje, aos 20, acaba de conquistar o diploma do ensino fundamental, depois de ser aprovado no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), realizado em agosto deste ano. O resultado chegou neste mês, uma semana depois de seu vigésimo aniversário.


Dos pouco mais de 1,5 milhão de candidatos inscritos no Brasil, ele foi o único de classe hospitalar a fazer a prova.

— Foi uma vitória. Coisa de Deus mesmo — comenta a mãe, Joana Paula Aleixo dos Santos. — Ele estava ansioso nos dias antes da divulgação do resultado. Achava que não ia passar. Quando recebeu a notícia da aprovação, ficou muito feliz. Para mim, também foi muito gratificante. Para alguém que não viveria mais do que 4 anos, ele já conseguiu muita coisa na vida.

Joana não exagera. Pouco depois de internar seu filho, ouviu dos médicos que ele viveria somente até os 4 anos de idade. Lucas já tinha sido diagnosticado, ainda com 1 ano, com doença de Pompe, que atinge uma em cada 40 mil pessoas em todo o mundo, segundo estudos internacionais. Muito rara e sem cura, essa enfermidade é causada pela deficiência de uma enzima, levando a uma fraqueza muscular crescente que impede o paciente de se locomover.

Embora grandes, as limitações do jovem são somente físicas. A capacidade cerebral em nada foi afetada. Dentro do Serviço de Retaguarda Infantil do hospital, na capital paulista, ele sempre mostrou especial encanto por adquirir conhecimento — por meio dos tradicionais livros ou pelo celular.


— Os médicos não sabem mais qual é a expectativa de vida dele — conta a mãe, não escondendo o orgulho. — Já passou tanto (do que era esperado) que agora não tem mais como estimar. E ele é lúcido, inteligente, tem a cabeça muito boa. Tem estrutura.

Desde pequeno, Lucas tem aulas dentro do hospital, mas essas sessões mantiveram periodicidade apenas nos primeiros tempos de internação, conta Joana. Na última década, ficaram irregulares, dependendo sempre da disponibilidade de voluntários.

A grande virada aconteceu no início do ano, quando um grupo de nove amigos, estudantes de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, começou a dar aulas intensivas ao rapaz no horário do almoço.


— Em uma visita que fiz ao Lucas, ele me disse que seu sonho era ser astrofísico — lembra o futuro médico Lucas Maschietto Boff, de 21 anos.

Santa Maluquice

O universitário já fazia parte do projeto Santa Maluquice, no qual graduandos da Santa Casa brincam com crianças internadas no hospital. Foi em uma dessas visitas que ele conheceu o filho de Joana e decidiu organizar o grupo de professores voluntários para, em apenas quatro meses, preparar o jovem para o exame.

— Eu já passei por um processo seletivo difícil, que é o do vestibular para Medicina, mas o que ele fez foi fantástico — diz Boff. — Em quatro meses, recebeu o conteúdo que estudantes normalmente recebem ao longo de quatro anos.

O Encceja é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e se destina a jovens e adultos que moram no Brasil ou no exterior que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos na idade apropriada.

Para conseguir a autorização para o paciente fazer a prova, dentro do hospital, o estudante de Medicina precisou entrar em contato com o Inep e entregar uma série de documentos. Ele fez, pessoalmente, a inscrição do jovem no exame:

— Ao ler o edital inteiro, vi que era direito de todo cidadão fazer o exame. Só que, faltando duas semanas para a prova, ainda não tinha confirmação de que viriam à Santa Casa para aplicar. Entrei em desespero. Uma semana depois, conseguimos.

Daqui para a frente, o plano de Lucas Gabriel é continuar estudando. A meta é chegar ao ensino superior e cursar Física.

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