Conhecer o que afeta o seu aluno é o primeiro passo para criar estratégias que garantam a aprendizagem.
Você sabe o que é síndrome de Rett, síndrome de Williams ou surdo-cegueira?
Para receber os alunos com necessidades educacionais especiais pela
porta da frente, é preciso conhecer as características de cada síndrome
ou deficiência.
O primeiro passo é entender as diferenças entre os dois termos.
Deficiência é um desenvolvimento insuficiente, em termos globais ou
específicos, ou um déficit intelectual, físico, visual, auditivo ou
múltiplo (quando atinge duas ou mais dessas áreas). Síndrome é o nome
que se dá a uma série de sinais e sintomas que, juntos, evidenciam uma
condição particular. A síndrome de Down, por exemplo, engloba
deficiência intelectual, baixo tônus muscular (hipotonia) e dificuldades
na comunicação, além de outras características, que variam entre os
atingidos por ela.
Se você leciona para alguém com diagnóstico que se encaixa nesse quadro,
precisa saber que é possível ensiná-lo. "O professor deve se
comprometer e acompanhar seu desenvolvimento", afirma Mônica Leone
Garcia, assessora técnica da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
Conheça a seguir as definições e características das síndromes e deficiências mais frequentes na escola:
Deficiência física
- Definição: uma variedade de condições que afeta a mobilidade e a
coordenação motora geral de membros ou da fala. Pode ser causada por
lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, más-formações
congênitas ou por condições adquiridas. Exemplos: amiotrofia espinhal
(doença que causa fraqueza muscular), hidrocefalia (excesso do líquido
que serve de proteção ao sistema nervoso central) e paralisia cerebral
(desordem no sistema nervoso central), que exige dos professores
cuidados específicos em sala de aula (leia mais a seguir).
•- Características: são comuns as dificuldades no grafismo em
função do comprometimento motor. Às vezes, o aprendizado é mais lento,
mas, exceto nos casos de alteração na motricidade oral, a linguagem é
adquirida sem problemas. Muitos precisam de cadeira de rodas ou muletas
para se locomover. Outros apenas de apoios especiais e material escolar
adaptado, como apontadores, suportes para lápis etc.
•
- Recomendações: a escola precisa ter elevadores ou rampas. Fique
atento a cuidados do dia a dia, como a hora de ir ao banheiro. Nos
casos de hidrocefalia, é preciso observar sintomas como vômitos e dores
de cabeça, que podem indicar problemas com a válvula implantada na
cabeça.
Paralisia Cerebral
•- Definição: lesão no sistema nervoso central causada, na
maioria das vezes, por uma falta de oxigênio no cérebro do bebê durante a
gestação, ao nascer ou até dois anos após o parto. "Em 75% dos casos, a
paralisia vem acompanhada de um dano intelectual", acrescenta Alice
Rosa Ramos, superintendente técnica da Associação de Assistência à
Criança Deficiente (AACD), em São Paulo.
•- Características: a principal é a espasticidade, um
desequilíbrio na contenção muscular que causa tensão. Inclui
dificuldades para caminhar, na coordenação motora, na força e no
equilíbrio. Pode afetar a fala.
•- Recomendações: para contornar as restrições de coordenação
motora, use canetas e lápis mais grossos - uma espuma em volta deles
presa com um elástico costuma resolver. Utilize folhas avulsas, mais
fáceis de manusear que os cadernos. Escreva com letras grandes e peça
que o aluno se sente na frente. É importante que a carteira seja
inclinada. Se ele não consegue falar e não utiliza uma prancha própria
de comunicação alternativa, providencie uma para ele com desenhos ou
fotos por meio dos quais se estabelece a comunicação. Ela pode ser feita
com papel cartão ou cartolina, em que são colados figuras pequenas, do
mesmo material, e fotos que representem pessoas e coisas significativas,
como os pais, os colegas da classe, o time de futebol, o abecedário e
palavras-chave, como "sim", "não", "fome", "sede", "entrar", "sair" etc.
Para informar o que quer ou sente, o aluno aponta para as figuras e se
comunica. Ele precisa de um cuidador para ir ao banheiro e, em alguns
casos, para tomar lanche.
Deficiência Visual
- Definição: condição apresentada por quem tem baixa visão (em
geral, entre 40 e 60%) ou cegueira (resíduo mínimo da visão ou perda
total), que leva à necessidade de usar o braile para ler e escrever.
• - Características: a perda visual é causada em geral por duas
doenças congênitas: glaucoma (pressão intraocular que causa lesões
irreversíveis no nervo ótico) e catarata (opacidade no cristalino). Em
alguns casos, as doenças são confundidas com uma ametropia (miopia,
hipermetropia ou astigmatismo), que pode ser corrigida pelo uso de
lentes, o que permite o retorno total da visão. A catarata também pode
ser corrigida, mas só com cirurgia. "O aluno que não enxerga o colega a 2
metros nas brincadeiras, principalmente em espaços abertos, pode ter 5
ou 6 graus de miopia e não necessariamente baixa visão ou cegueira",
explica o oftalmologista Frederico Lazar, de São Paulo.
- Recomendações: promover a realização de exames de acuidade
visual na escola para identificar possíveis doenças - reversíveis ou não
- ou ametropias. Se o estudante não percebe expressões faciais, lide
com ele de maneira perceptiva, alterando, por exemplo, o tom de voz. As
atenções devem ser redobradas quando o assunto é orientação e
mobilidade. É preciso identificar os degraus com contraste (faixa
amarela ou barbante), os obstáculos, como pisos com alturas diferentes,
e, principalmente, os vãos livres e desníveis. A sinalização de marcos
importantes, como tabuletas indicando cada sala e espaço, é feita também
em braile. Uma ideia é trabalhar maquetes da escola para que o espaço
seja facilmente identificado.
Na sala de aula, é aconselhável não colocar mochilas no chão ou no
corredor entre as carteiras. Use materiais maiores e reconhecíveis pelo
tato. Aproxime os que têm baixa visão do quadro-negro, já que alguns
conseguem enxergar quando sentados na primeira carteira. Outros precisam
de equipamentos especiais. Para os que não conseguem ler o que está
escrito no quadro, há algumas possibilidades. "Traga o material já
escrito de casa e entregue a eles ou peça que os colegas, em sistema de
revezamento, os auxiliem na tarefa", explica a psicóloga Cecília
Batista, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp).
Deficiência Auditiva
•- Definição: condição causada por má-formação na orelha, no
conduto (cavidade que leva ao tímpano), nos ossos do ouvido ou ainda por
uma lesão neuro-sensorial no nervo auditivo ou na cóclea (porção do
ouvido responsável pelas terminações nervosas). Tem origem genética ou
pode ser provocada por doenças infecciosas, como a rubéola e a
meningite. Também pode ser temporária, causada por otite.
- Características: pode ser leve, moderada, severa ou profunda.
"Quanto mais aguda, mais difícil é o desenvolvimento da linguagem", diz a
fonoaudióloga Beatriz Mendes, docente da Pontifícia Universidade
Católica (PUC), em São Paulo, que atua na Divisão de Educação e
Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic). Um exame
fonoaudiológico é capaz de identificar o grau da lesão.
•- Recomendações: há duas formas de o aluno com deficiência
auditiva desenvolver a linguagem. Uma delas é usar um aparelho auditivo e
passar por acompanhamento terapêutico, familiar e escolar. "Pessoas
surdas conseguem falar", ressalta Beatriz Mendes.
Para isso, tem de passar por terapia, receber novos moldes e próteses e
ter o apoio da família e do professor", complementa Beatriz Novaes,
docente da PUC e coordenadora do Centro Audição na Criança da Derdic, da
mesma universidade paulistana. Outro meio é aprender a língua
brasileira de sinais (Libras). O estudante que tem perda auditiva também
demora mais para se alfabetizar. Pedir que se sente nas carteiras da
frente pode ajudá-lo a aprender melhor. "Fale perto e de frente para
ele", destaca Beatriz Mendes. Aposte também no uso de recursos visuais e
na diminuição de ruídos - e tente o apoio e a integração por meio de um
intérprete de Libras.
Deficiência múltipla
- Definição: ocorrência de duas ou mais deficiências: autismo e
síndrome de Down; uma intelectual com outra física; uma intelectual e
uma visual ou auditiva, por exemplo. "Não há estudos que indiquem qual
associação de deficiência é a mais comum", afirma Shirley Rodrigues
Maia, diretora de programas educacionais da Associação Educacional para
Múltipla Deficiência (Ahimsa). Uma das mais comuns nas salas de aula é a
surdo-cegueira.
SURDO-CEGUEIRA
•
- Definição: perdas auditivas e visuais simultâneas e em graus
variados. As causas são principalmente doenças infecciosas, como
rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus (doença da mesma família do
herpes). A diferença de um cego ou surdo para um surdo-cego é que este
não tem consciência da linguagem e, portanto, não aprende a se comunicar
de imediato.
•- Características: traz problemas de comunicação e mobilidade. O
surdo-cego pode apresentar dois comportamentos distintos: isola-se ou é
hiperativo.
•- Recomendações: o primeiro desafio é criar formas de
comunicação. Busque também integrar esse estudante aos demais e criar
rotinas previsíveis para que ele possa entender o que vai acontecer.
Ofereça objetos multissensoriais, que facilitam a comunicação.
Deficiência intelectual
•- Definição: funcionamento intelectual inferior à média (QI), que se
manifesta antes dos 18 anos. Está associada a limitações adaptativas em
pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no
lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade,
determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho). O diagnóstico do
que acarreta a deficiência intelectual é muito difícil, englobando
fatores genéticos e ambientais. Além disso, as causas são inúmeras e
complexas, envolvendo fatores pré, peri e pós-natais. Entre elas, a mais
comum na escola é a síndrome de Down.
SÍNDROME DE DOWN
•- Definição: alteração genética caracterizada pela presença de
um terceiro cromossomo de número 21. A causa da alteração ainda é
desconhecida, mas existe um fator de risco já identificado. "Ele aumenta
para mulheres que engravidam com mais de 35 anos", afirma Lília Maria
Moreira, professora de Genética da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
•- Características: além do déficit cognitivo, são sintomas as
dificuldades de comunicação e a hipotonia (redução do tônus muscular).
Quem tem a síndrome de Down também pode sofrer com problemas na coluna,
na tireoide, nos olhos e no aparelho digestivo, entre outros, e, muitas
vezes, nasce com anomalias cardíacas, solucionáveis com cirurgias.
•
- Recomendações: na sala de aula, repita as orientações para que o
estudante com síndrome de Down compreenda. "Ele demora um pouco mais
para entender", afirma Mônica Leone Garcia, da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo. O desempenho melhora quando as instruções são
visuais. Por isso, é importante reforçar comandos, solicitações e
tarefas com modelos que ele possa ver, de preferência com ilustrações
grandes e chamativas, com cores e símbolos fáceis de compreender. A
linguagem verbal, por sua vez, deve ser simples. Uma dificuldade de quem
tem a síndrome, em geral, é cumprir regras. "Muitas famílias não
repreendem o filho quando ele faz algo errado, como morder e pegar
objetos que não lhe pertencem", diz Mônica. Não faça isso. O ideal é
adotar o mesmo tratamento dispensado aos demais. "Eles têm de cumprir
regras e fazer o que os outros fazem. Se não conseguem ficar o tempo
todo em sala, estabeleça combinados, mas não seja permissivo." Tente
perceber as competências pedagógicas em cada momento e manter as
atividades no nível das capacidades da criança, com desafios gradativos.
Isso aumenta o sucesso na realização dos trabalhos. Planeje pausas
entre as atividades. O esforço para desenvolver atividades que envolvam
funções cognitivas é muito grande e, às vezes, o cansaço faz com que
pareçam missões impossíveis para ela. Valorize sempre o empenho e a
produção. Quando se sente isolada do grupo e com pouca importância no
trabalho e na rotina escolares, a criança adota atitudes reativas, como
desinteresse, descumprimento de regras e provocações.
TGD
•- Definição: os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são
distúrbios nas interações sociais recíprocas, com padrões de
comunicação estereotipados e repetitivos e estreitamento nos interesses e
nas atividades. Geralmente se manifestam nos primeiros cinco anos de
vida.
AUTISMO
•- Definição: transtorno com influência genética causado por
defeitos em partes do cérebro, como o corpo caloso (que faz a
comunicação entre os dois hemisférios), a amídala (que tem funções
ligadas ao comportamento social e emocional) e o cerebelo (parte mais
anterior dos hemisférios cerebrais, os lobos frontais).
•- Características: dificuldades de interação social, de
comportamento (movimentos estereotipados, como rodar uma caneta ou
enfileirar carrinhos) e de comunicação (atraso na fala). "Pelo menos 50%
dos autistas apresentam graus variáveis de deficiência intelectual",
afirma o neurologista José Salomão Schwartzman, docente da pós-graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo. Alguns, porém, têm habilidades especiais e se
tornam gênios da informática, por exemplo.
•- Recomendações: para minimizar a dificuldade de relacionamento,
crie situações que possibilitem a interação. Tenha paciência, pois a
agressividade pode se manifestar. Avise quando a rotina mudar, pois
alterações no dia a dia não são bem-vindas. Dê instruções claras e evite
enunciados longos.
SÍNDROME DE ASPERGER
- Definição: condição genética que tem muitas semelhanças com o autismo.
•- Características: focos restritos de interesse são comuns.
Quando gosta de Matemática, por exemplo, o aluno só fala disso. "Use o
assunto que o encanta para introduzir um novo", diz Salomão
Schwartzman.
•- Recomendações: as mesmas do autismo.
SÍNDROME DE WILLIAMS
•
- Definição: desordem no cromossomo 7.
•- Características: dificuldades motoras (demora para andar e
falta de habilidade para cortar papel e andar de bicicleta, entre
outros) e de orientação espacial. Quando desenha uma casa, por exemplo, a
criança costuma fazer partes dela separadas: a janela, a porta e o
telhado ficam um ao lado do outro. No entanto, há um interesse grande
por música e muita facilidade de comunicação. "As que apresentam essa
síndrome têm uma amabilidade desinteressada", diz Mônica Leone Garcia.
•- Recomendações: na sala de aula, desenvolva atividades com música para chamar a atenção delas.
SÍNDROME DE RETT
•- Definição: doença genética que, na maioria dos casos, atinge meninas.
•-Características: regressão no desenvolvimento (perda de
habilidades anteriormente adquiridas), movimentos estereotipados e perda
do uso das mãos, que surgem entre os 6 e os 18 meses. Há a interrupção
no contato social. A comunicação se faz pelo olhar.
•- Recomendações: "Crie estratégias para que esse aluno possa
aprender, tentando estabelecer sistemas de comunicação", diz Shirley
Rodrigues Maia, da Ahim-sa. Muitas vezes, crianças com essa síndrome
necessitam de equipamentos especiais para se comunicar melhor e
caminhar.
Conhecer o que afeta o seu aluno é o primeiro passo para criar estratégias que garantam a aprendizagem.
Você sabe o que é síndrome de Rett, síndrome de Williams ou surdo-cegueira?
Para receber os alunos com necessidades educacionais especiais pela
porta da frente, é preciso conhecer as características de cada síndrome
ou deficiência.
O primeiro passo é entender as diferenças entre os dois termos.
Deficiência é um desenvolvimento insuficiente, em termos globais ou
específicos, ou um déficit intelectual, físico, visual, auditivo ou
múltiplo (quando atinge duas ou mais dessas áreas). Síndrome é o nome
que se dá a uma série de sinais e sintomas que, juntos, evidenciam uma
condição particular. A síndrome de Down, por exemplo, engloba
deficiência intelectual, baixo tônus muscular (hipotonia) e dificuldades
na comunicação, além de outras características, que variam entre os
atingidos por ela.
Se você leciona para alguém com diagnóstico que se encaixa nesse quadro,
precisa saber que é possível ensiná-lo. "O professor deve se
comprometer e acompanhar seu desenvolvimento", afirma Mônica Leone
Garcia, assessora técnica da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
Conheça a seguir as definições e características das síndromes e deficiências mais frequentes na escola:
Deficiência física
- Definição: uma variedade de condições que afeta a mobilidade e a
coordenação motora geral de membros ou da fala. Pode ser causada por
lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, más-formações
congênitas ou por condições adquiridas. Exemplos: amiotrofia espinhal
(doença que causa fraqueza muscular), hidrocefalia (excesso do líquido
que serve de proteção ao sistema nervoso central) e paralisia cerebral
(desordem no sistema nervoso central), que exige dos professores
cuidados específicos em sala de aula (leia mais a seguir).
•- Características: são comuns as dificuldades no grafismo em
função do comprometimento motor. Às vezes, o aprendizado é mais lento,
mas, exceto nos casos de alteração na motricidade oral, a linguagem é
adquirida sem problemas. Muitos precisam de cadeira de rodas ou muletas
para se locomover. Outros apenas de apoios especiais e material escolar
adaptado, como apontadores, suportes para lápis etc.
•
- Recomendações: a escola precisa ter elevadores ou rampas. Fique
atento a cuidados do dia a dia, como a hora de ir ao banheiro. Nos
casos de hidrocefalia, é preciso observar sintomas como vômitos e dores
de cabeça, que podem indicar problemas com a válvula implantada na
cabeça.
Paralisia Cerebral
•- Definição: lesão no sistema nervoso central causada, na
maioria das vezes, por uma falta de oxigênio no cérebro do bebê durante a
gestação, ao nascer ou até dois anos após o parto. "Em 75% dos casos, a
paralisia vem acompanhada de um dano intelectual", acrescenta Alice
Rosa Ramos, superintendente técnica da Associação de Assistência à
Criança Deficiente (AACD), em São Paulo.
•- Características: a principal é a espasticidade, um
desequilíbrio na contenção muscular que causa tensão. Inclui
dificuldades para caminhar, na coordenação motora, na força e no
equilíbrio. Pode afetar a fala.
•- Recomendações: para contornar as restrições de coordenação
motora, use canetas e lápis mais grossos - uma espuma em volta deles
presa com um elástico costuma resolver. Utilize folhas avulsas, mais
fáceis de manusear que os cadernos. Escreva com letras grandes e peça
que o aluno se sente na frente. É importante que a carteira seja
inclinada. Se ele não consegue falar e não utiliza uma prancha própria
de comunicação alternativa, providencie uma para ele com desenhos ou
fotos por meio dos quais se estabelece a comunicação. Ela pode ser feita
com papel cartão ou cartolina, em que são colados figuras pequenas, do
mesmo material, e fotos que representem pessoas e coisas significativas,
como os pais, os colegas da classe, o time de futebol, o abecedário e
palavras-chave, como "sim", "não", "fome", "sede", "entrar", "sair" etc.
Para informar o que quer ou sente, o aluno aponta para as figuras e se
comunica. Ele precisa de um cuidador para ir ao banheiro e, em alguns
casos, para tomar lanche.
Deficiência Visual
- Definição: condição apresentada por quem tem baixa visão (em
geral, entre 40 e 60%) ou cegueira (resíduo mínimo da visão ou perda
total), que leva à necessidade de usar o braile para ler e escrever.
• - Características: a perda visual é causada em geral por duas
doenças congênitas: glaucoma (pressão intraocular que causa lesões
irreversíveis no nervo ótico) e catarata (opacidade no cristalino). Em
alguns casos, as doenças são confundidas com uma ametropia (miopia,
hipermetropia ou astigmatismo), que pode ser corrigida pelo uso de
lentes, o que permite o retorno total da visão. A catarata também pode
ser corrigida, mas só com cirurgia. "O aluno que não enxerga o colega a 2
metros nas brincadeiras, principalmente em espaços abertos, pode ter 5
ou 6 graus de miopia e não necessariamente baixa visão ou cegueira",
explica o oftalmologista Frederico Lazar, de São Paulo.
- Recomendações: promover a realização de exames de acuidade
visual na escola para identificar possíveis doenças - reversíveis ou não
- ou ametropias. Se o estudante não percebe expressões faciais, lide
com ele de maneira perceptiva, alterando, por exemplo, o tom de voz. As
atenções devem ser redobradas quando o assunto é orientação e
mobilidade. É preciso identificar os degraus com contraste (faixa
amarela ou barbante), os obstáculos, como pisos com alturas diferentes,
e, principalmente, os vãos livres e desníveis. A sinalização de marcos
importantes, como tabuletas indicando cada sala e espaço, é feita também
em braile. Uma ideia é trabalhar maquetes da escola para que o espaço
seja facilmente identificado.
Na sala de aula, é aconselhável não colocar mochilas no chão ou no
corredor entre as carteiras. Use materiais maiores e reconhecíveis pelo
tato. Aproxime os que têm baixa visão do quadro-negro, já que alguns
conseguem enxergar quando sentados na primeira carteira. Outros precisam
de equipamentos especiais. Para os que não conseguem ler o que está
escrito no quadro, há algumas possibilidades. "Traga o material já
escrito de casa e entregue a eles ou peça que os colegas, em sistema de
revezamento, os auxiliem na tarefa", explica a psicóloga Cecília
Batista, do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp).
Deficiência Auditiva
•- Definição: condição causada por má-formação na orelha, no
conduto (cavidade que leva ao tímpano), nos ossos do ouvido ou ainda por
uma lesão neuro-sensorial no nervo auditivo ou na cóclea (porção do
ouvido responsável pelas terminações nervosas). Tem origem genética ou
pode ser provocada por doenças infecciosas, como a rubéola e a
meningite. Também pode ser temporária, causada por otite.
- Características: pode ser leve, moderada, severa ou profunda.
"Quanto mais aguda, mais difícil é o desenvolvimento da linguagem", diz a
fonoaudióloga Beatriz Mendes, docente da Pontifícia Universidade
Católica (PUC), em São Paulo, que atua na Divisão de Educação e
Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic). Um exame
fonoaudiológico é capaz de identificar o grau da lesão.
•- Recomendações: há duas formas de o aluno com deficiência
auditiva desenvolver a linguagem. Uma delas é usar um aparelho auditivo e
passar por acompanhamento terapêutico, familiar e escolar. "Pessoas
surdas conseguem falar", ressalta Beatriz Mendes.
Para isso, tem de passar por terapia, receber novos moldes e próteses e
ter o apoio da família e do professor", complementa Beatriz Novaes,
docente da PUC e coordenadora do Centro Audição na Criança da Derdic, da
mesma universidade paulistana. Outro meio é aprender a língua
brasileira de sinais (Libras). O estudante que tem perda auditiva também
demora mais para se alfabetizar. Pedir que se sente nas carteiras da
frente pode ajudá-lo a aprender melhor. "Fale perto e de frente para
ele", destaca Beatriz Mendes. Aposte também no uso de recursos visuais e
na diminuição de ruídos - e tente o apoio e a integração por meio de um
intérprete de Libras.
Deficiência múltipla
- Definição: ocorrência de duas ou mais deficiências: autismo e
síndrome de Down; uma intelectual com outra física; uma intelectual e
uma visual ou auditiva, por exemplo. "Não há estudos que indiquem qual
associação de deficiência é a mais comum", afirma Shirley Rodrigues
Maia, diretora de programas educacionais da Associação Educacional para
Múltipla Deficiência (Ahimsa). Uma das mais comuns nas salas de aula é a
surdo-cegueira.
SURDO-CEGUEIRA
•
- Definição: perdas auditivas e visuais simultâneas e em graus
variados. As causas são principalmente doenças infecciosas, como
rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus (doença da mesma família do
herpes). A diferença de um cego ou surdo para um surdo-cego é que este
não tem consciência da linguagem e, portanto, não aprende a se comunicar
de imediato.
•- Características: traz problemas de comunicação e mobilidade. O
surdo-cego pode apresentar dois comportamentos distintos: isola-se ou é
hiperativo.
•- Recomendações: o primeiro desafio é criar formas de
comunicação. Busque também integrar esse estudante aos demais e criar
rotinas previsíveis para que ele possa entender o que vai acontecer.
Ofereça objetos multissensoriais, que facilitam a comunicação.
Deficiência intelectual
•- Definição: funcionamento intelectual inferior à média (QI), que se
manifesta antes dos 18 anos. Está associada a limitações adaptativas em
pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no
lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade,
determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho). O diagnóstico do
que acarreta a deficiência intelectual é muito difícil, englobando
fatores genéticos e ambientais. Além disso, as causas são inúmeras e
complexas, envolvendo fatores pré, peri e pós-natais. Entre elas, a mais
comum na escola é a síndrome de Down.
SÍNDROME DE DOWN
•- Definição: alteração genética caracterizada pela presença de
um terceiro cromossomo de número 21. A causa da alteração ainda é
desconhecida, mas existe um fator de risco já identificado. "Ele aumenta
para mulheres que engravidam com mais de 35 anos", afirma Lília Maria
Moreira, professora de Genética da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
•- Características: além do déficit cognitivo, são sintomas as
dificuldades de comunicação e a hipotonia (redução do tônus muscular).
Quem tem a síndrome de Down também pode sofrer com problemas na coluna,
na tireoide, nos olhos e no aparelho digestivo, entre outros, e, muitas
vezes, nasce com anomalias cardíacas, solucionáveis com cirurgias.
•
- Recomendações: na sala de aula, repita as orientações para que o
estudante com síndrome de Down compreenda. "Ele demora um pouco mais
para entender", afirma Mônica Leone Garcia, da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo. O desempenho melhora quando as instruções são
visuais. Por isso, é importante reforçar comandos, solicitações e
tarefas com modelos que ele possa ver, de preferência com ilustrações
grandes e chamativas, com cores e símbolos fáceis de compreender. A
linguagem verbal, por sua vez, deve ser simples. Uma dificuldade de quem
tem a síndrome, em geral, é cumprir regras. "Muitas famílias não
repreendem o filho quando ele faz algo errado, como morder e pegar
objetos que não lhe pertencem", diz Mônica. Não faça isso. O ideal é
adotar o mesmo tratamento dispensado aos demais. "Eles têm de cumprir
regras e fazer o que os outros fazem. Se não conseguem ficar o tempo
todo em sala, estabeleça combinados, mas não seja permissivo." Tente
perceber as competências pedagógicas em cada momento e manter as
atividades no nível das capacidades da criança, com desafios gradativos.
Isso aumenta o sucesso na realização dos trabalhos. Planeje pausas
entre as atividades. O esforço para desenvolver atividades que envolvam
funções cognitivas é muito grande e, às vezes, o cansaço faz com que
pareçam missões impossíveis para ela. Valorize sempre o empenho e a
produção. Quando se sente isolada do grupo e com pouca importância no
trabalho e na rotina escolares, a criança adota atitudes reativas, como
desinteresse, descumprimento de regras e provocações.
TGD
•- Definição: os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são
distúrbios nas interações sociais recíprocas, com padrões de
comunicação estereotipados e repetitivos e estreitamento nos interesses e
nas atividades. Geralmente se manifestam nos primeiros cinco anos de
vida.
AUTISMO
•- Definição: transtorno com influência genética causado por
defeitos em partes do cérebro, como o corpo caloso (que faz a
comunicação entre os dois hemisférios), a amídala (que tem funções
ligadas ao comportamento social e emocional) e o cerebelo (parte mais
anterior dos hemisférios cerebrais, os lobos frontais).
•- Características: dificuldades de interação social, de
comportamento (movimentos estereotipados, como rodar uma caneta ou
enfileirar carrinhos) e de comunicação (atraso na fala). "Pelo menos 50%
dos autistas apresentam graus variáveis de deficiência intelectual",
afirma o neurologista José Salomão Schwartzman, docente da pós-graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo. Alguns, porém, têm habilidades especiais e se
tornam gênios da informática, por exemplo.
•- Recomendações: para minimizar a dificuldade de relacionamento,
crie situações que possibilitem a interação. Tenha paciência, pois a
agressividade pode se manifestar. Avise quando a rotina mudar, pois
alterações no dia a dia não são bem-vindas. Dê instruções claras e evite
enunciados longos.
SÍNDROME DE ASPERGER
- Definição: condição genética que tem muitas semelhanças com o autismo.
•- Características: focos restritos de interesse são comuns.
Quando gosta de Matemática, por exemplo, o aluno só fala disso. "Use o
assunto que o encanta para introduzir um novo", diz Salomão
Schwartzman.
•- Recomendações: as mesmas do autismo.
SÍNDROME DE WILLIAMS
•
- Definição: desordem no cromossomo 7.
•- Características: dificuldades motoras (demora para andar e
falta de habilidade para cortar papel e andar de bicicleta, entre
outros) e de orientação espacial. Quando desenha uma casa, por exemplo, a
criança costuma fazer partes dela separadas: a janela, a porta e o
telhado ficam um ao lado do outro. No entanto, há um interesse grande
por música e muita facilidade de comunicação. "As que apresentam essa
síndrome têm uma amabilidade desinteressada", diz Mônica Leone Garcia.
•- Recomendações: na sala de aula, desenvolva atividades com música para chamar a atenção delas.
SÍNDROME DE RETT
•- Definição: doença genética que, na maioria dos casos, atinge meninas.
•-Características: regressão no desenvolvimento (perda de
habilidades anteriormente adquiridas), movimentos estereotipados e perda
do uso das mãos, que surgem entre os 6 e os 18 meses. Há a interrupção
no contato social. A comunicação se faz pelo olhar.
•- Recomendações: "Crie estratégias para que esse aluno possa
aprender, tentando estabelecer sistemas de comunicação", diz Shirley
Rodrigues Maia, da Ahim-sa. Muitas vezes, crianças com essa síndrome
necessitam de equipamentos especiais para se comunicar melhor e
caminhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário